Lavagem do Bonfim: As águas que abençoam o caminhar

Lavagem do Bonfim

Introdução

A Lavagem do Bonfim, realizada anualmente em Salvador (BA), é muito mais que uma festa popular — é uma verdadeira expressão da religiosidade, sincretismo e identidade cultural da Bahia. Vestidos de branco e imbuídos de fé, milhares de pessoas percorrem cerca de 8 km, da Igreja da Conceição da Praia até o Santuário do Senhor do Bonfim, culminando num ritual de purificação com água de cheiro e bênçãos profundas. Desde 1773, essa celebração encanta e transforma quem participa.

Lavagem do Bonfim

1. Origem e História

1.1 A imagem e a promessa

Em meados do século XVIII, o capitão português Teodósio Rodrigues de Faria trouxe para Salvador uma imagem de Cristo, o Senhor do Bonfim, prometendo erigir-lhe uma igreja em caso de sobrevivência a uma tempestade no mar. A basílica foi inaugurada em 1754 e tornou-se ponto central de devoção.

1.2 A lavagem como ritual dos escravizados

Desde 1773, escravizados realizavam a limpeza e ornamentação da igreja como preparação para a festa. Com o tempo, essa prática se fundiu com os cultos do Candomblé, transformando-se na cerimônia das Águas de Oxalá — uma homenagem ao orixá da criação e paz. A Igreja Católica proibiu a lavagem dentro do templo, transferindo-a para as escadarias e adro.

1.3 Patrimônio cultural

Desde 2013, a Lavagem do Bonfim é reconhecida pelo IPHAN como patrimônio imaterial do Brasil, reafirmando sua importância histórica, cultural e religiosa.


2. O Cortejo e Ritual

2.1 Caminhada de fé

A cerimônia começa na quinta-feira anterior ao segundo domingo após o Dia de Reis. Às 8h, baianas vestidas de branco iniciam o cortejo da Conceição da Praia até o Bonfim — uma caminhada de 8 km que dura cerca de quatro horas.

2.2 O papel das baianas e a água de cheiro

Cerca de 200 baianas desfilam com jarros de água de cheiro — preparado com lavanda, florais e ervas aromáticas — utilizada para lavar os degraus do Santuário e a cabeça dos devotos. Um gesto simbólico de purificação, renovação e bênçãos.

2.3 Símbolo do sincretismo religioso

O Senhor do Bonfim é sincretizado ao orixá Oxalá, refletindo a união entre fé católica e cultura afro-brasileira. Durante o ritual, entoam-se cânticos iorubás e tocam-se atabaques em clima ecumênico.

2.4 Festa e cultura na praça do Bonfim

Depois da lavagem, o adro da igreja vibra com música, danças, comidas típicas e atividades culturais locais — criando um ambiente festivo e de celebração à fé popular.


3. Significados e Simbolismos

3.1 A pureza do branco

Vestidos de branco — cor associada a Oxalá — os participantes buscam paz interior, recomeço e solidariedade grupal. O branco também realça a energia espiritual compartilhada durante o evento.

3.2 Renascimento e transformação

A lavagem das escadarias simboliza deixar para trás o peso do passado e renovar caminhos — uma limpeza espiritual coletiva que favorece o “caminhar” com fé, esperança e proteção.

3.3 As fitinhas e os pedidos

As tradicionais fitinhas do Bonfim (45 cm, medida da imagem de Cristo) são amarradas ao gradil da basílica com três pedidos. Quando se desfazem, acredita-se que os pedidos se realizarão.


4. Tabela: Cronograma da Lavagem do Bonfim (H2)

EtapaDescrição
InícioCulto ecumênico às 8h na Igreja da Conceição da Praia
CortejoCaminhada de ~8 km até o Santuário do Bonfim
LavagemA partir de ~12h, baianas lavam escadarias com água de cheiro
Ritual coletivoFieis molham cabeças; tributo ao Senhor do Bonfim e Oxalá
Celebração finalMúsica, danças, comidas típicas e comunhão cultural

5. Checklist para Participar com Propósito

  • Usar vestimenta branca
  • Levar água de cheiro ou aceitar a dos braços das baianas
  • Amarrar fitinhas do Bonfim com três pedidos
  • Chegar cedo para o culto e caminhada
  • Hidratar-se e usar protetor solar
  • Participar respeitosamente das tradições religiosas
  • Aproveitar as atrações culturais após a lavagem

6. Conclusão

A Lavagem do Bonfim é uma experiência profundamente transformadora — uma viagem pela fé, história e identidade baiana. Cada passo, cada água derramada resume séculos de tradição, resistência e esperança. Se desejar participar com mais consciência ou produzir conteúdo sobre essa festa, permita-se vivê-la de corpo e alma.

A força das águas que banham o adro do Bonfim se propagam pelo coração de quem caminha acreditando no sagrado. Que sua jornada seja abençoada.

Belisa Everen é a autora e idealizadora do blog Encanta Leitura, onde compartilha sua paixão por explorar e revelar as riquezas culturais do Brasil e do mundo. Com um olhar curioso e sensível, ela se dedica a publicar artigos sobre cultura, costumes e tradições, gastronomia e produtos típicos que carregam histórias e identidades únicas. Sua escrita combina informação, sensibilidade e um toque pessoal, transportando o leitor para diferentes lugares e experiências, como se cada texto fosse uma viagem cultural repleta de aromas, sabores e descobertas.

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